Roberto não tinha mais que 10 anos quando ocorreu em São Paulo o histórico lançamento de
“Dona Flor e Seus Dois Maridos”, ao qual ele prestigiou levado pelos pais. A ebulição midiática da memo
rável noite, os jornalistas a entrevistá-lo e aos irmãos igualmente infantes, tudo lhe causou tão
vívidaimpressão que, a partir daquele instante,teve a real dimensão de quem era o tio Jorge, irmão de seu pai
Joelson.
Corte para 2021.Felizmente, sua memória das quatro décadas de convívio quase visceral com o
tio-escritor é prodigiosa. Ao longo das mais de 300 páginas, não é difícil imaginar o querido tio de
chinelo, bermuda e as indefectíveis camisas floridas, seja em seu altar-mor, a famosa casa do Rio
Vermelho, em Salvador, ou na casa do irmão, em São Paulo, endereço que lhe era igualmente caro.
Espectador privilegiado, olhos e principalmente ouvidos atentos, o sobrinho registrava o impermeável
a biógrafos.
A narrativa é um delicioso livro-aberto, “da porta pra dentro”, de vida & obra do autor de “Gabriela” (e por consequência da intimidade do clã Amado) como nenhuma outra. Um prazeroso desfile de
histórias ora divertidas, ora picantes, ora agridoces, ora reflexivas, ora confessionais, ora sentimentais,
ora sociopolíticas,ora contestadoras.
Em fluidez e riqueza de detalhes notáveis, Roberto Amado imprime ao texto um tom carinhoso,
sem furtar-se a colocar pingos nos devidos “is”: quando, por exemplo, retrata a ambivalente relação do
escritor – então deputado federal – com o PCB, ou quando o assunto é sua planetária popularidade best
seller sob o prisma das críticas que parte da intelligentsia patrícia sempre lhe desferiu.
Está tudo lá: alegrias, medos, crenças e devoções, amores e desamores, o intuitivo método de trabalho
do autor baiano, suas aplicadas comilanças, a gênese de algumas de suas mais significativas obras, a
consciência de cidadão do mundo em contraponto à paixão pela Bahia. E o desfilar de uma notável
constelação de amigos e admiradores: Roman Polanski, Vinicius de Morais, Jean-Paul Sartre, Simone
Beauvoir, Dorival Caymmi, Jack Nicholson, Aldemir Martins, Getúlio Vargas, Graciliano Ramos, Pierre
Verger,Glauber Rocha,Carybé….e muitos outros.
Que o prefácio tenha a lavra do primo Ricardo Ramos Filho, neto de ninguém menos que o
emérito Graciliano Ramos,fala por si só sobre a obra.
O livro inclui fotos nunca antes publicadas e QR-Code de acesso a vídeo inédito, de quase dez
minutos,com uma das ultimas aparições públicas filmadas do escritor.
Sobre o autor
Roberto Amado é jornalista e escritor,atividades que exerce há mais de 40 anos.Ao longo desses
anos, trabalhou na grande imprensa paulistana e publicou seis livros — romances e reportagens. Foi
representante brasileiro no International Writing Program na Universidade de Iowa, nos EUA, premiado
pelo Ministério da Cultura com projetos literários e finalista do prêmio Jabuti.Atualmente faz doutorado em literatura na FFLCH/USP com uma pesquisa sobre o Romance de 30. Nasceu no Rio de Janeiro,
mas mora em São Paulo.
É sobrinho de Jorge Amado,irmão do seu pai Joelson.